quinta-feira, 15 de abril de 2010

Auto-Suficiência: Oposição ao Reino

As crianças que eram trazidas para tocar em Jesus, tiveram a oposição dos discípulos, visto que na óptica deles, elas não poderiam ganhar o direito de estar com Ele, mas Jesus disse que Elas sim, tinham esse direito, pois não tinham o que sobrava no homem, e exortou-os sobre a dimensão do reino, que só seria possível receber na condição de uma criança.

O que será que uma criança tem que os discípulos não tinham? Eles precisariam perder algo, para ganhar o que uma criança ganharia sem o mínimo esforço? Ora essa é a palavra chave, “esforço”, pois o reino de Deus é recebido gratuitamente por quem reconhece a sua insuficiência, é sem esforço que a graça se manifesta, a auto-suficiência do ser humano o afasta da natureza do reino, havia necessidade de se perder a suficiência, e se tornar insuficiente como uma criança. [1]

Um homem de posição presenciou aquela cena “absurda”, crianças serem valorizadas assim? Então pergunta para Jesus, “Bom mestre, o que farei para herdar a vida eterna? Ora se é “herdar”, como pode o herdeiro fazer alguma coisa em prol da herança? Se a conquista não é ativa, e sim passiva, logo é um ganho através de uma perda! Perde-se a vida, e o testamentário ganha a herança pela morte do testador.

Ser chamado de bom, não agradou o mestre, visto que ser “bom mestre” está no nível humano, mas ser Senhor está na dimensão do divino, o homem de posição não tinha condições de reconhecer a Divindade de Jesus, para isso, implicaria perder o espírito de religiosidade, onde predominava o “faça para herdar”, necessário era substituir por “herdar sem fazer”.

Jesus não queria entrar num debate teológico, tão pouco desvalorizar o seu interlocutor, simplesmente entrou na teologia do homem, e disse que ele sabia os mandamentos levando-o a dimensão passiva da lei, onde o “não” é imperativo, somente honrar pai e mãe foi o único mandamento ativo.

No entanto a essência da lei, não é ativa nem passiva, mas sub-jetiva, não é o fazer ou não fazer, mas o sentimento que está por traz do fazer, ou não fazer, de sorte que ninguém é justificado pelo que faz, ou pelo que deixa de fazer, mas pelos sentimentos que domina a ação, seja ela do “não faça”, ou do “faça”, de forma que não precisa “matar” o próximo para ser assassino, mas se irar contra ele e no coração desejar cometer homicídio. [2]

Portanto o valor da oferta seria reduzido a um sacrifício inútil se quem vai ofertar lembrar-se que o seu irmão tem algo contra ele, e não ele contra o seu irmão, assim sendo, só resta dar meia volta, e ir tratar dos sentimentos do outro, para que sua oferta fosse aceita por Deus.[3]

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NOTAS

[1] Lucas 18: 15-18

[2] Cf. Mateus 5: 21-22, onde Jesus relativizou o sentido de “matar”, que agora não precisava consumar o ato na esfera objetiva, mas na subjetividade do coração bastava “irar-se”, estaria sujeito a julgamento.

[3] Mateus 5: 23-24, mais uma vez vemos que na dimensão da fé Cristã o mais valorizado n]ao são as ações concretas, do “fazer”, mas também a do “deixar de fazer”, veja que ofertara está na esfera concreta, mas reconciliar com o irmão está na esfera da “paz interior”, isso mostra que o valor dos atos, são relativos, pois o seu real valor é determinado pelos “Sentimentos”, que estão por traz deles.


Colaborador: José Lima

Ministro do Evangelho

Mestre em Ciências da Religião pelo

Seminário Nazareno das Américas (SENDAS)

Prof. IBICAMP e

ESTEADEC – Campinas- SP

É autor do Blog: http://jl-reflexoes.blogspot.com

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